COMO APRENDER A TRABALHAR COM POESIA NA SALA DE AULA: Relato do projeto Poeticamente Paulista.

COMO APRENDER A TRABALHAR COM POESIA NA SALA DE AULA: Relato do projeto Poeticamente Paulista.

No livro “A poesia na escola: leitura e análise de poesia para criança”, Guebara ( 2002, p.14), diz que a poesia promove uma ampliação dos modos de ler.”  Partindo desse mote, nesse ano de 2017, eu resolvi levar os estudantes do 6º ano a uma experiência com o gênero poético. Essa escolha se deu por três razões: a) primeiro porque o gênero poético está inserido na matriz curricular de Língua Portuguesa como conteúdo do 6º ano; b) segundo, porque a poesia possibilita o uso incomum da língua, ou nas palavras do poeta Paulo Pais, no livro “Poesia para crianças(1996, p. 27), a poesia  pode “mostrar a perene novidade da vida e do mundo; atiçar o poder de imaginação das pessoas, libertando-as da mesmice da rotina”; c) terceiro, meus questionamentos sobre o que, de fato, os estudantes já sabiam sobre o gênero – sua produção, sua leitura e explanação oral. Nesse ponto, o que justificou minha  escolha do tema foras as seguintews questsões: a) os alunos, na leitura de poemas, levam em consideração a relação forma e conteúdo para a interpretação? b) Na produção dos poemas, eles sabem fazer uso dos recursos estilísticos da linguagem poética? c) na leitura oral, eles conseguem expressar na voz a compreensão dos poemas lidos? Outra questão que também motivou a elaboração do projeto foi saber o que os alunos sabiam sobre a história da cidade onde moravam. Dessa forma, meu intuito foi levar os alunos a aprenderem sobre a história da cidade e representar esse conhecimento no gênero poético. Atrelado a isso, uma vez que segundo Lerner (2002) a leitura será mais significativa para o aluno quando ele vir nela um objetivo que responda a uma demanda de aprendizagem, nós resolvermos ultrapassar os muros da escola e levar à poesia a um lar de idosos da cidade. Os poemas estudados e produzidos pelos alunos foram lidos e declamados para os idosos de um asilo da cidade. Isso foi significativo para o aprendizado dos alunos porque eles sabiam que os poemas produzidos e declamados teriam um interlocutor real, logo, era necessário lapidar a escrita e a declamação dos poemas.

O objetivo geral do projeto era desenvolver a competência poética do aluno na leitura, na escrita e na oralidade, tomando como temática para a produção dos poemas a história da cidade do Paulista. Já os objetivos específicos, com seu respectivos conteúdos, foram: a) conhecer as características do gênero poético (conteúdos: conotação x denotação, verso, estrofe, rima, quebra de verso); b) fazer uso da linguagem poética nas produções (conteúdos: comparação e metáfora,) ; c) analisar poemas, explorando a relação entre forma e conteúdo (conteúdo: leitura de poema) d) ler e declamar poemas com recursos do paralinguístico (conteúdo: entonação, ritmo, interpretação, postura) (e) conhecer e valorizar a história da local  (conteúdo: história da cidade do Paulista). Com os conteúdos dos objetivos “a”, “b” e “c”, os alunos puderam ter acesso à peculiaridade linguístico-discurisva do fazer poético com seus jogos sonoros, rítmicos, morfo-sintáticos, figurativos e espaciais. Com o conteúdo do objetivo “d”, os estudantes tiveram puder vivenciar a interdependência que existe entre a compreensão do poema e sua explanação na leitura oral e na declamação. A expressividade oral dos alunos, no final do projeto, mostra que eles aprenderam que, na leitura ou declamação do poema, a emoção só aparece quando ele é, de fato, compreendido. Já com o conteúdo do objetivo “e”, os estudantes tiveram a chance de aprender sobre a história da cidade. No levantamento feito no início do projeto, constatei que os alunos não sabiam praticamente nada sobre a história da cidade;

Com base na diagnose, considerei que o projeto poderia dar conta das demandas de aprendizagem dos alunos porque eu o estruturei em uma  didática progressiva – partimos do menos complexo para o mais complexo –, dinâmica (os alunos experimentaram a poesia em várias linguagens – música, desenho, pintura –), interessante (houve grande interesse em conhecer a história da cidade, principalmente nas aulas de campo) e emocionante ( que o digam as lágrimas dos alunos ao lerem seus poemas para os idosos). Os poemas produzidos refratam, na linguagem figurada usada, a história da cidade hoje latente na fala dos alunos. A declamação desses poemas demonstram a evolução dos alunos que passaram de uma leitura mecânica a um gesto oral interpretativo e  expressivo.

Solé (2010) a leitura na escola será significativa quando responder a uma demanda de aprendizagem com os alunos do 6° ano, um projeto que envolvesse poesia, história e local e solidariedade.  Mas por que a poesia no espaço escolar?. Com o projeto, o aluno seria capaz de transpassar a barreira da língua comum e penetrar no espaço da pluralidade de significados, Outra razão para o desenvolvimento do projeto foi  a necessidade que vi de levar o aluno a conhecer e valorizar a história local, uma vez que o projeto se propunha a estudar a história da cidade e representá-la em poemas. Além disso, sendo um conteúdo do 6° ano, o gênero poético permitiria que os alunos aprendessem as particularidades desse gênero em três campos da língua: leitura, escrita e oralidade. Soma-se a isso a oportunidade que vi, em meio ao meu planejamento do projeto, de dar aos alunos a chance de fazerem um uso real da  leitura. Refiro-me à ideia que tive levar os alunos para lerem os poemas para os idosos de um asilo da cidade. Essa é uma concepção de ensino defendida por Lerner (2002, p. 21) quando ela afirma que é necessário “gerar condições didáticas que permitam pôr em cena (…) uma versão escolar da leitura e da e da escrita mais próxima da versão social (não-escolar) dessas práticas.”. Com essas motivações primárias, rascunhei um esboço do projeto e fui em busca dos conhecimentos prévios dos alunos.

Diagnose

Nesse levantamento, meu interesse era saber o que alunos já sabiam sobre o gênero poético – suas características, suas demandas de escrita e de leitura oral – e sobre a história da cidade do Paulista. Assim, no dia 15/02, fiz uma roda de leitura e dei para cada aluno o livro “Charles na escola de dragões”, da FTD. Esse conto fala de um dragão que não se interessava muito por voar ou cuspir fogo, mas adorava poemas. Lemos vários poemas. Terminada a leitura do conto, coloquei no quadro o poema “Ah, Paulista – de minha autoria – e perguntei aos alunos qual dos dois textos –  o conto do dragão ou o meu texto – era um poema e o que fazia dele um poema. Os alunos, em sua maioria, disseram que o meu texto era um poema porque rimava. Em seguida fiz a análise do poema com a turma, buscando fazer a relação entre a forma e o conteúdo do poema. Para isso, lancei algumas questões: sobre o que fala o poema?; como o poeta fala da cidade  (aqui foi possível explorar os efeitos de sentido gerados pela figuração presente no poema) ?; o que mais chamou sua atenção sobre a forma como o poeta falada cidade (os alunos destacaram a relação feita entre a cidade e a natureza). Terminada a análise, apresentei aos alunos questões mais focadas no gênero poético: por que o poeta diz que a cidade é um farol e o que ele quer dizer com isso?; o poema que você leu é construído de versos estrofes. Você sabe o que são versos e estrofes? O poema tem rimas? Quantos versos e estrofes tem o poema lido? O que é uma rima e qual é a sua importância para o poema? O diagnóstico mostrou que os alunos tinham um compreensão vaga sobre poema; não conheciam seus elementos estruturadores; tinham um conhecimento elementar sobre rima. Também sondei o conhecimento dos alunos sobre a cidade: o que você sabe sobre a cidade do Paulista?; por que a cidade tem esse nome?; sabe o nome de algum ponto turístico? Com exceção de alguns pontos turísticos, os alunos sabiam pouquíssimo sobre a cidade. A última atividade do dia foi a escolha de um poema no varal poético para ler na aula seguinte. No dia 20/02 fiz o diagnóstico de leitura oral. Cada aluno foi à frente da turma e leu o poema escolhido. Observei que a maioria dos alunos fez uma leitura sem expressão, em voz baixa e sem variação de entonação, baixando a cabeça devido à posição baixa do papel (havia muito a ser feito). No dia 22/02, diagnostiquei a escrita. Para isso, analisei com o turma três poemas. Ob era apresentar aos alunos as características do gênero poético para que eles pudessem fazer a primeira produção. Assim, com a análise do poema “Pescaria”, e Convite”, de José Paulo Pais, abordei a figuração, o jogo de palavras e de som que a poesia possibilita;  com “O relógio”, de Vinícius, ao som do violão, foi possível ver o jogo rítmico e o efeito de sentido gerado pela pontuação e pelas rimas. Após esse trabalho, no dia 06/03, os alunos fizeram a primeira produção. Nela, a maioria dos aluno conseguiu seguir a estética do gênero – com as devidas dificuldades de quebra de verso -, mas com uma grande carência nos outros aspectos do gênero: figuração, quebra de verso, rima. Com esse diagnóstico em mãos, eu pude então ajustar os objetivos e conteúdos do projeto. O objetivo (ob)  geral era desenvolver a competência poética do aluno na leitura, na escrita e na oralidade, tomando como temática para a produção dos poemas a história da cidade do Paulista. Já os objetivos específicos, com seu respectivos conteúdos, foram: a) conhecer as características do gênero poético (conteúdos: conotação x denotação, verso, estrofe, rima, quebra de verso); b) fazer uso da linguagem poética nas produções (conteúdos: comparação e metáfora,); c) analisar poemas, explorando a relação entre forma e conteúdo (conteúdo: leitura de poema) d) ler e declamar poemas com recursos do paralinguístico (conteúdo: interpretação, entonação, ritmo, postura); e) conhecer e valorizar a história da local (conteúdo: história da cidade do Paulista). Com base na diagnose, considerei que o projeto poderia dar conta das demandas de aprendizagem dos alunos porque eu o estruturei em uma  didática progressiva – partimos do menos complexo para o mais complexo –, dinâmica (os alunos experimentaram a poesia em várias linguagens – música, desenho, pintura –), interessante (houve grande interesse em conhecer a história da cidade, principalmente nas aulas de campo) e emocionante ( que o digam as lágrimas dos alunos ao lerem seus poemas para os idosos). Os poemas produzidos refratam, na linguagem figurada usada, a história da cidade hoje latente na fala dos alunos. A declamação desses poemas demonstram a evolução dos alunos que passaram de uma leitura mecânica a um gesto oral interpretativo e  expressivo. Vejamos, passo-a-passo, como seu deu essa construção poética, histórica, solidária e de sucesso de aprendizagem.

METODOLOGIA

FASE II – Aprendendo a história da cidade do Paulista. Após a sondagem, apresentei aos alunos a proposta do projeto: falei que estudaríamos a história da cidade, qual seria o produto final – poemas sobre a cidade que fariam parte de uma coletânea a ser destinada à biblioteca – que recitaríamos os poemas em um lar de idosos e que haveria um concurso de poesia no final do projeto. Cientes sobre o que seria feito, os alunos ficaram empolgados. O primeiro  momento do projeto foi dedicado ao estudo sobre a história da cidade do Paulista. As atividades desenvolvidas tinham por (ob )levar o aluno a aprender a história da cidade. Para isso, no dia 13/03, entreguei aos alunos um texto que falava sobre a história da cidade. Fizemos uma leitura e uma marcação de trechos importante do texto. Em seguida, dei início à construção de um mapa simbólico – linha do tempo –. A dinâmica foi: os alunos foram relendo o texto e propondo símbolos para representar o fato histórico. Assim, para a chegada dos portugueses os alunos sugeriram desenhar um pequeno barco. Com essa dinâmica, foi construída uma linha do tempo que perpassou da chegada dos portugueses à independência da cidade do Paulista. No dia 20/03, concluímos o mapa e fizemos algumas leituras: uma coletiva, e outras em duplas. Nessa, fui visitando cada dupla para ver como estava o andamento da compreensão dos alunos sobre a história da cidade . Essa leitura do mapa em dupla ocorreu em vários momentos antes da produção dos poemas. Ao final dessa aula, cada aluno foi ao varal de poemas montado na sala e escolheu um poema para ser lido no asilo. No dia 22/03, os alunos transcreveram o poema escolhido para uma cartolina para a um varal poético que foi exposto no pátio da escola. O (ob) dessa prática foi deixar o aluno em  contato mais frequente com o gênero em estudo para ir se apropriando de sua linguagem. No dia 27/03, os alunos pegaram os poemas transcritos para a cartolina e colocaram no varal montado na sala. Em seguida, o varal  foi posto no pátio da escola. A segunda atividade do dia foi o ensaio desses poemas para a primeira apresentação no lar dos idosos. Ação: a) os alunos colaram o poema no caderno reservado para o projeto; b) pedi que os alunos copiasse nesse caderno algumas questões para serem respondidas sobre o poema lido (sobre o que fala o poema?; que sentimento ele mostra?; em que parte do poema você vai dar mais ênfase e por quê?). O ob dessas perguntas era fazer o aluno melhor compreender o poema para que pudesse dar, na leitura, a devida  interpretação. Feito esse trabalho, cada aluno foi à frente da turma e leu o poema. Essa leitura foi gravada e mostrou ainda muitas fragilidades – pouca expressividade, voz baixa, sem entonação. Havia muito a ser feito. 28/03 – Discussão sobre a leitura de poemas. O ob dessa aula foi fazer o aluno refletir sobre o que seria importante para se realizar uma boa leitura oral de um poema. Ação: a) pedi que os alunos respondessem, no caderno do projeto, a seguinte questão: o que você acha que é importante para se fazer uma boa leitura de um poema? Os alunos deram respostas bem variadas – “é preciso ler alto, devagar, olhando para pessoas”; “treinar bastante,” “ter postura”; b) após ouvir as respostas, pedi que os alunos copiassem algumas orientações sobre a leitura de poema –  1- é preciso compreender bem o poema; 2-pensar nos sentimentos que o poema expressa; 3-dar à leitura a interpretação pedida pelo poema; 4- escolher momentos para dar ênfase. d) distribuí na turma o poema “A lua no cinema” de Paulo Leminsky e fiz duas leituras – a primeira sem interpretação, e a segunda com –. Perguntei aos alunos qual das duas leituras havia sido a melhor. Os alunos responderam que segunda porque havia expressado o sentimento de tristeza da lua. O ob dessa atividade foi mostrar aos alunos a importância de se compreender o poema para poder interpretá-lo na leitura. A aula terminou com os alunos assistindo à declamação de Leminsky. 29/03 –Ensaio para apresentação no lar do idoso. Ação: a) Chamei cada aluno individualmente para uma breve conversa sobre o poema a ser lido. Perguntei o que ele havia compreendido, que sentimento o poema pedia na leitura, em que parte daria ênfase e por quê. O ob era discutir com o aluno a compreensão do poema e sua possível interpretação na leitura. Foi um atividade produtiva porque, na hora do ensaio, os alunos já começaram a apresentar uma intenção interpretativa com boas variações de entonação e colocação de ênfase em alguns momentos do poema, além de corrigirem a postura e a impostação vocal. 30/03 – Primeira visita ao lar do idoso. Esse foi um dia especial. Ação: a) colocados em semicírculo, os alunos leram os poemas para os idosos; b) feita a leitura, cada aluno escolheu um idoso para fazer uma breve entrevista ( o que mais gosta de comer? O que mais gostava na infância? Cor  preferida?). O ob da entrevista era colher dados para fazer um poema em homenagem ao idoso entrevistado; c) distribuição de donativos. Os alunos se mobilizaram e conseguiram montar pequenos kits com sabonete, escova e creme dental. Alguns idosos estavam acamados e foram presenteados no leito.Os ajustes feitos nos ensaios surtiram efeito porque os alunos conseguiram progredir em alguns pontos, tais como, impostação vocal, postura e ritmo de leitura. Mas a interpretação precisava melhorar. 03/04 – Revisando a história de Paulista. O ob dessa aula era  avaliar e aprofundar o conhecimento do alunos sobre a história da cidade. Ação: a) para avaliar, pedi que cada aluno lesse, sozinho, o mapa simbólico. Visitei cada banca e fui ouvindo. A maioria dos alunos já estava com a leitura do mapa na ponta da língua. b) para aprofundar o conhecimento, exibi um vídeo sobre a história da cidade. Durante o vídeo os alunos foram fazendo algumas anotações. 05/04 – FASE II – Estudo da linguagem poética (comparação e metáfora). Em meio ao conhecimento  da história da cidade, iniciamos o estudo sistemático da linguagem poética. O ob dessa fase era habilitar o aluno para o uso consciente da linguagem poética, principalmente das figuras de linguagem comparação e metáfora. Ação: a) iniciei pedindo aos alunos que respondessem a seguinte questão: o que você já sabe sobre poesia? O ob era avaliar o que havia sido aprendido até aquele momento. Entre as respostas registras no caderno, encontramos: “poesia é tudo de bom, com rima, sentido figurado, brincar com as palavras” (aluno: Isaias). b) feia essa sondagem, fiz com os alunos análise de alguns poemas, começando pelo poema “Ah Paulista, usado na diagnose. O ob era relembrar aos alunos as características do gênero poético, dando ênfase no aspecto da figuração. Com o poema “Ah  Paulista foi  possível trabalhar as noções de conotação e denotação. Esse tema da figuração foi reforçado na análise do poema “Pescaria” de José Paulo Pais, a partir do trecho “o homem se distraiu tanto pescando que sua cabeça ficou leve como um balão”. Discuti com os alunos o efeito de sentido dessa associação do balão coma cabeça. Para o estudo do jogo sonoro, analisamos o poema “É “Ô” ou “Ó”” de Ricardo Mello. O poeta faz uma brincadeira com sons abertos e fechados da vogal “O”. Toda essa análise foi registrada no caderno e na ficha que acompanhava os poemas. Busquei mostrar aos alunos a relação entre o conteúdo e forma dos poemas; c) depois das análises propus aos alunos a criação de um dicionário poético. O ob era levar o aluno a fazer uso da linguagem incomum e plástica da poesia. Considerei essa um boa atividade de introdução à linguagem  poética porque era menos  complexa e até divertida. Assim, apresentei um modelo de dicionário poético que eu havia feito ( amor: porção  mágica que nasce no coração; bola: parque de diversão; Paulista: mar verde que encanta) e, em seguida, pedi que formassem duplas para a criação de dez vocábulos poéticos. Enfatizei que ao menos dois vocábulos deveriam remeter à cidade de Paulista. O resultado foi surpreende (escada: amigo do elevador; Paulista: paraíso do sonhos; raio: lança celeste; praia de Maria Farinha: sorriso da natureza). O que eu disse para estimular os alunos foi: invente, saia do real. 07/04 – Nesse dia, os alunos visitaram os pontos histórico-turísticos da cidade: a igreja matriz , construída em 1950 -, o Forte de Pau Amarelo, a igreja de Nossa Senhora da Conceição, o cemitério da igreja de Nossa Senhora do Ó, e o rio Timbó. O ob da atividade foi ampliar o conhecimento dos alunos sobre a cidade e sua história. Em cada um dos lugares visitados os alunos fizeram anotações no caderno. 08/04 – Nesse dia, os alunos produziram um desenho sobre o passeio do dia anterior. Cada aluno escolheu um dos lugares visitados e fez um desenho. Esse desenho, juntamente com as fotos, serviram de base para a produção dos poemas sobre Paulista 10/04 – Continuação do trabalho com a linguagem poética: comparação e metáfora. Ação: a) para revisitar a noção de figuração, entreguei aos os alunos o poema “Menino moreno” de Cristina Aragão. Ao lado do poema coloquei uma tabela com os campos “conotação e denotação”. Durante a leitura fomos preenchendo esses campos. Junto com essa classificação, tive o cuidado de discutir com os alunos o efeito de sentido gerado pela figuração no poema. b) para introduzir as figuras comparação e metáfora, analisei com os aluno o poema “O leão” de Vinícius de Moraes. Esse poema vem com essas figuras bem marcadas, como se pode ver em “Leão, tua goela é uma fornalha…o salto do tigre é rápido como um raio”. Perguntei aos alunos que sentido o poeta quis dar quando associou  a goela do leão a uma fornalha. Os alunos disseram que dava o sentido que quentura, força. Na folha em que estava o poema do leão também havia dois campos: comparação e metáfora. Durante a leitura, fui explicando para os alunos cada uma das figuras e retirando exemplos do próprio poema. 17/04 – Dando prosseguimento ao estudo das figuras de linguagem, fizemos duas atividades: análise da música “Amar” de Roupa Nova e produção comparação e metáfora a partir da associação de imagens. Ação: a) Distribuí a letra da música “Amar” com os alunos, cantamos e em seguida fomos fizemos a análise. Não foi difícil para os alunos identificarem as figuras. No trecho “o amor é um furacão” os alunos disseram que havia metáfora. Mas não bastava só isso. Perguntei-lhes que sentido poderia haver na relação entre o amor e o furacão. Os alunos foram rápidos em dizer que o amor era forte como um furacão. Essa exploração dos efeitos de sentido gerados pelas figuras de linguagem ocorreu durante toda a leitura da música. b) a segunda atividade, consistiu em criar comparação e metáfora pela associação de imagens. Desenhei no quadro um coração e uma pedra (        –          ). Em seguida fiz as associações, criando um comparação ( seu coração é duro como pedra)  e uma metáfora (seu coração é uma pedra). A partir do meu exemplo, pedi aos alunos que criassem outras comparações e metáfora a partir de outros desenhos. Essa atividade surtiu um grande efeito porque deixou clara a diferença entre as duas figuras e mostrou aos alunos o efeito de sentido por elas gerados. 18/04 – Produção de poema coletivo sobre a amizade. Essa atividade teve por ob colocar em prática as figuras de linguagem que  estavam sendo estudadas. Ação: a) primeiro eu falei para os alunos que faríamos um poema coletivo sobre a amizade; b) pedi que eles fossem falando o que teria a ver com amizade e foram dizendo – amor, respeito, verdade…. Com as respostas eu fui criando no quadro um banco de palavras; c) com muitas palavras à disposição, nós começamos a criar o poema. Durante a produção eu fui chamando a atenção dos alunos para o uso da comparação e da metáfora, o que resultou em um poema bem figurativo (A amizade é linda como  a natureza, é luz que clareia a tristeza). 24/04 – Aprofundando o estudo sobre comparação e metáfora. Tendo como ob sedimentar o conhecimento sobre as figuras, realizamos duas atividades: a) transformar comparação em metáfora, e esta naquela b) completar poema com comparação e metáfora. Ação: a) na primeira atividade, distribuí para os alunos uma rolha, dividida em duas colunas. Na coluna da esquerda havia um poema; a da esquerda estava fazia. A atividade do aluno foi reescrever o poema do lado direito, trocando as metáforas, presente do poema, por comparações. Depois eu dei outra ficha, para que fosse feito o contrário, isto é, comparação foi transformada em metáfora; b) A segunda atividade consistiu em completar os poemas com comparação e metáfora. Distribuí entre os alunos dois poemas com versos faltando. A atividade era completar o poema criando versos com comparações e metáforas. Os alunos, já inteirados com as duas figuras, não tiveram dificuldade para realizar a atividade. A última atividade dessa aula foi a produção  coletiva de um poema sobre a cidade do Paulista. Estava chegando a hora de fazer uso consciente das figuras em estudo. Para essa produção, seguimos o seguinte roteiro: a) criamos um mural com as fotos do passeio aos pontos históricos; b) fizemos a releitura do mapa sobre história da cidade; c) produzimos um banco de palavras sobre  cidade; d) produzimos o poema. 26/04 – Produção de poema em dupla sobre Paulista. Depois de duas produções coletivas, vi que era hora de partir a construção autonomia escritora. Assim, nessa aula, pedi que a turma formasse duplas e que produzissem um poema sobre Paulista. Enfatizei que esse seria um poema de versos brancos – sem rima –. Optei por esse tipo de poema porque queria  desconstruir da na cabeça dos alunos a ideia que eles tinham de que para ser poema teria que rimar. Enfatizei para as duplas que em seus poemas deveriam aparecer as figuras em estudo. Nos poemas produzido é possível ver apropriação dos alunos tanto da história da cidade, quanto dos recurso da linguagem poético. Que o digam os versos de Geleyso, referindo-se aos canhões Forte de Pau Amarelo, “como pássaros suas bolas voam buscando pelos mares seus inimigos”.Durante a produção desse poema, eu fui fazendo a correção simultânea com os alunos que iam me mostrando o andamento do poema. 03/05 – Produção individual de poema. Era chegada a hora da autonomia escritora. Cada aluno escolheu um tema sobre a cidade e produziu o poema. Como na produção em dupla, fui avaliando individualmente a produção de cada aluno: foram muitas idas e vindas, por parte dos alunos, até que o poema estivesse pronto. Terminada a produção, os alunos transcreveram os poemas para uma cartolina e, ao lado dele,  fizeram um desenho que o representava. Essa cartolina compôs mais um varal poético que foi exposto nos corredores da escola. 08/05 FASE III – Trabalhando com a rima. Nessa fase, o ob era mostrar aos alunos a rima não só como recurso sonoro-musical  para a produção do ritmo, mas também como recurso estético para a produção dos sentidos do poema. ação: a) Com esse objetivo iniciamos o trabalho com a análise de três poemas  – Vida de sapo, de J. P. Paes; O pinguim, de Vinícius; e A farmácia, de Pedro Bandeira. No primeiro poema, vimos o jogo rimático em torno do som “AI” que reproduzia a vida rotineira e sofrida do sapo; no poema “O pinguim” os alunos notaram   que as rimas ajudavam a construir o sentido do andar do pinguim. No poema “A farmácia”, que não rimava, chamei a atenção dos alunos para a presença da poesia em um poema sem rimas. b) a segunda atividade da aula foi cantar e analisar a música “A cassa” de Vinícius de M. c) após essa análise fizemos uma atividade de desconstrução das rimas da música. A atividade consistia em reescrever trechos da música, tirando a rima. Assim, a palavra “nada”, que rimava com “engraçada, foi trocada por “parede”. Feitas as modificações, cantamos novamente. Os alunos perceberam que a música havia ficado sem ritmo e teve o sentido prejudicado. Com isso eu expliquei que as rimas não podem ser feitas por quaisquer palavras, mas por aquelas que ajudam a construir o ritmo e o sentido do poema. A última atividade do dia  foi a produção de versões musicais para a música a casa. O ob era exercitar o fazer poético pela exploração da rima. Ação: a) ao som do violão, eu mostrei aos alunos uma versão que eu havia feito (A FACA – era uma faca muito afiada..).Cantei com os alunos e aproveitei para explicar o que eles deveriam considerar para a produção da versão (jogo rítmico, métrica dos versos, escolha das rimas). b) Dadas as explicações, a turma foi dividida em grupos de três para a produção. O resultado foi excelente. Depois cada grupo cantou sua versão na sala. 10 – 15/05 – Produção de quadra poética sobre Paulista. Tendo por ob levar o aluno à pratica do fazer poético rimado, levei para sala algumas quadras que eu havia feito sobre Paulista. Li para os alunos e expliquei como o jogo de rimas era construído em uma quadra ( o segundo verso rima com o quarto, falei para os alunos). Dito isso, cada aluno escolheu um tema sobre a cidade e produziu três quadras. Terminada a produção, os alunos transcreveram a quadra para uma cartolina e a representaram por meio de uma pintura. O ob da pintura era trabalhar a poesia por outra linguagem que não a escrita. 17/05 – Produção de quadras poéticas sobre os idosos. Para fazerem essas quadras, os alunos recorreram à entrevista feita com os idosos, na vista do 30/03. Com esses dados, cada aluno produziu um poema em homenagem ao idoso entrevistado. Tanto nessas quadras como nas que foram feitas sobre Paulista foi possível constatar o uso das figuras de linguagem estudadas. 22/05 – FASE IV – Oralidade: estudo para a declamação de poemas. O ob dessa fase era capacitar o aluno para que ele passasse a declamar poemas aplicando os recursos da oralidade:  impostação vocal, pausa, variação de entonação, interpretação. Ação: a) a primeira atividade proposta foi  assistir à declamação do poeta “Ronaldo Boldin”. O ob era mostrar uma referência profissional aos alunos. Assim, distribuí para os alunos o poema “Eu quero voltar para casa” de Giusepe Chiaroni e pedi que fizessem uma leitura silenciosa. Em seguida, discutimos um pouco sobre a compreensão dos alunos sobre o poema. Os alunos disseram que o poema expressava saudade e tristeza. b) a segunda atividade foi assistir a Boldin declamando o poema. Ao término, os alunos disseram que a tristeza encontrada por eles havia aparecido na rosto e na voz do poeta. Aproveitei para falar que essa interpretação só havia sido possível porque Boldin havia compreendido os sentimento do poema. c) a terceira atividade do dia foi assistir a um concurso infantil de poesia. Levei para sala um vídeo de um concurso de declamação. A dinâmica com os alunos funcionou da seguinte forma: a cada três candidatos mostrados no vídeo, os alunos paravam e escolhiam, por voto, o melhor. Foi uma atividade bem construtiva porque os alunos, à medida que julgavam, iam justificando a escolha ( e eles diziam: esse interpretou melhor, colocou emoção na voz, falou alto. Essa gesticulou muito e não olhou para o público). 24/05 – Ensaio com microfone. Em clima de preparação para a segunda ida ao lar dos idosos, começamos os ensaios. A novidade foi a presença do microfone. Era preciso trabalhar a leitura com esse recurso. Assim, durante a leitura dos poemas, orientei os alunos sobre a posição do caderno, o distanciamento do microfone, a necessidade distribuir  o olhar entre o caderno e o público. Esse ensaio foi gravado. Após a leitura, os alunos se autoassitiram e viram em que deveriam melhorar. Os alunos ainda não haviam decorado o poema, então resolvi que no lar dos idosos eles ainda leriam. A declamação ficaria para a apresentação de culminância do projeto na escola. 29/05 – Visita do poeta Amaro Poeta. Tendo por ob mostrar aos alunos uma referência de declamação mais próxima de suas realidades, convidei o poeta Amaro Poeta, integrante da Academia de Letras da cidade do Paulista, para conversar com os alunos sobre a arte da poesia. Foi uma manhã de muita aprendizagem. Ação: a) os alunos recepcionaram o poeta com a leitura dos poemas que eles haviam produzido; b) já com a palavra, o poeta fez um panorama sobre a história da cidade, falou sobre o seu fazer poético e declamou alguns poemas; c) o poeta abriu espaço para que os alunos fizessem perguntas, e eles fizeram (Emilly: como fazer uma boa declamação?; Everton: quando você descobriu que seria poeta?; Letícia: pode usar gestos na declamação?); c) o poeta deu algumas orientações aos alunos sobre como declamar (leia o poema várias vezes; fale devagar, sentindo as palavras; dê pausas; use gestos intencionais). Essas orientações foram registradas no caderno; d) no final do encontro, o poeta sorteou um livro e deu autógrafos. 02/06 – Segunda visita ao lar dos idos. Os idosos já estavam à nossa espera. Montei o som e iniciamos: a) primeiro os alunos cantaram uma música; b) em seguida cada aluno leu seu poema sobre Paulista; c) depois foi feita a leitura em homenagem a cada idoso. Os alunos foram chamando os idosos que foram chegando devagarzinho para ouvir o poema e receber uma lembrança das mãos dos alunos. Os idosos ficaram emocionados ao ouvirem seus nomes nos poemas. Essa foi uma experiência marcante para os alunos e um compromisso nosso de colocar na formação deles essa vivência solidária e humanizadora. Quanto à desenvoltura dos alunos, percebi uma leitura mais propositiva e com variação de entonação, mas ainda faltava o gesto oral interpretativo resultante de uma compreensão plena do poema. Fui em busca da construção desse gesto nos ensaios posteriores para a última apresentação que ocorreria  no 09/06, na escola. 05/06 – Trabalhando a expressividade oral. Nessa aula, antes de começar o trabalho com a oralidade, pedi que os alunos respondessem duas questões: o que vocês aprenderam sobre a cidade do Paulista? O que você aprenderam sobre poesia? O ob era avaliar, de maneira pontual, o que os alunos haviam aprendido sobre esses dois conteúdos. Algumas respostas dos alunos (Emilly: Aprendi sobre a história da cidade, sobre suas igrejas; aprendi que na leitura é preciso dar ênfase, ler alto, olhar para o público. Beatriz: Aprendi que Paulista tem riqueza e história; aprendi que o poema pode ser escrito com ou sem rima; na leitura tem que ter postura, ler alto e devagar para o público entender). Esse recorte de resposta me mostrou que os alunos haviam aprendido os conteúdos que havíamos proposto. Terminada essa atividade, iniciei o trabalho com a oralidade. Ação: a) pedi que os alunos lessem seus poemas em silêncio para decorá-los. Em observação da turma, percebi que essa leitura silenciosa não estava surtindo efeito – os alunos não conseguiam decorar. b) foi aí  que mudei a estratégia e pedi que eles formassem duplas para que um ouvisse o outro. Essa atividade teve um efeito imediato. Em trinta minutos 90% da turma já havia decorado. c) com o texto decorado, cada aluno foi à frente e declamou. Gravei a declamação. Quando todos terminaram, eu apresentei as gravações e cada aluno foi anotando em que deveria melhorar. 07/06 – Ensaio final. Essa aula teve 4 momentos. Ação: a) Projetei na parede mais um trecho do concurso de poesia que os alunos haviam visto. A candidata que selecionei havia feito uma bela declamação. A partir do vídeo eu expliquei para os alunos que a candidata só havia feito uma boa declamação porque havia compreendido o poema, e por isso dava ênfase, colocava pausa, variava a entonação da voz. Meu ob foi chamar a atenção dos alunos para a necessidade da compreensão do poema. b) Em seguida,coloquei no quadro algumas orientações sobre a declamação: compreenda o poema, não corra, coloque emoção na voz, escolha momento para pausa e ênfase. c) após essas orientações, cada aluno foi à frente e declamou. Já foi possível ver uma evolução com declamações mais expressivas, mas ainda não estava bom. Durante a aula eu fiquei pensando em como fazer o aluno dar a devida interpretação. Foi aí que resolvi aplicar a seguinte estratégia: pedi para cada aluno declamar apenas uma quadra, mas com expressividade. A minha fala eles foi: “coloque emoção na declamação; o poema de vocês é uma  homenagem à Paulista, logo, coloquem alegria na voz”. Com essa orientação, cada aluno declamou a primeira quadra dando a interpretação que o poema pedia. Quando todos terminaram, eu pedi que declamassem todo o poema, dando a  mesma expressividade dada para a primeira quadra. O resultado foi muito bom. O que eu vi foi um belo exemplo de aprendizagem. Os alunos deram um salto de qualidade e declamaram com força, vida, emoção, variação intencional da voz, aplicação de pausa, impostação vocal. Ali eu tive a certeza de que o projeto havia sido um su-ces-so poque os alunos, verdadeiramente, haviam aprendido a declamar. Essa aprendizagem pode ser vista nos vídeos da apresentação dos alunos na escola, no dia 09/06, data de encerramento do projeto. Nesse dia, cada aluno declamou seu poema com a interpretação devida. Após a declamação, dei o resultado do concurso de poesia. Foram premiados os três primeiros lugares.  AVALIAÇÃO: Durante o planejamento do projeto, ao estabelecer o objetivo principal (desenvolver a competência poética do aluno na leitura, na escrita e na oralidade, tomando como temática para a produção dos poemas a história da cidade do Paulista), eu sabia que só teria êxito se eu organizasse bem os critérios e os instrumentos de avaliação. Por isso, busquei primeiro fazer um diagnóstico de cada conteúdo que seria ensinado. Para o conteúdo “conhecimentos do gênero poético”, o diagnóstico mostrou que os alunos tinham uma compreensão vaga sobre o poema, não conheciam seus elementos estruturadores; tinham um conhecimento elementar sobre a rima e seus efeitos na construção do sentido. No campo da leitura oral, vi que a maioria dos alunos fez uma leitura sem expressão, com voz baixa e sem variação de entonação. Na escrita, os alunos conseguiram se adequar à estética do gênero, mas não fizeram uso dos recursos da linguagem poética. Por fim, a respeito do conhecimento dos alunos sobre a cidade do Paulista, a diagnose  deixou claro que eles sabiam muito pouco. Com esse diagnóstico, eu elaborei as sequências didáticas que objetivaram atender às demandas de aprendizagem dos alunos. Comecei trabalhando o saber dos alunos sobre a cidade do Paulista. Para levá-los ao domínio desse conteúdo, as atividades propostas foram: leitura de texto sobre a história da cidade, montagem de mapa simbólico sobre a história da cidade, exibição de vídeo seguida de anotações, visita aos pontos histórico-turísticos da cidade. Para avaliar esse conteúdo, usei: a sondagem inicial, o acompanhamento frequente da leitura do mapa simbólico e os poemas produzidos. Esses instrumentos me permitiram monitorar o aprendizado dos alunos. O critério que usei para constatar o aprendizado foi o domínio do aluno, sobre a história da cidade, na leitura do mapa e a presença dessa  história nos poemas produzidos. Esses dois critérios foram atendidos: hoje, os alunos falam da história da cidade com propriedade e seus poemas refletem esse domínio. Com a história da cidade sedimentada na aprendizagem dos alunos, parti para o trabalho com a linguagem poética. Para esse conteúdo, as atividades foram: a) análise de diversos poemas, explorando a relação entre forma e conteúdo; criação de dicionário poético, análise de letras de música (para reconhecimento da comparação e da metáfora); produção de comparação e metáfora pela associação de imagens; produção de poema coletivo – aplicação da comparação e da metáfora -; atividade para transformar comparação em metáfora e vice-versa; atividade para completar poema com comparação e metáfora. Com essa sequência bem encadeada e proposta de maneira crescente, os alunos se apropriaram da linguagem poética e dela fizeram uso nas atividades propostas e em seus poemas. Prova disso é a presença da comparação e da metáfora em suas produções. Para essa fase, os instrumentos avaliativos usados foram: folhas de análise de poemas – os poemas analisados eram seguidos de questões que exploravam o efeito do figurativo na construção dos sentidos –; caderno de registro – cada aluno recebeu um caderno para registrar as atividades e as produções. Fui acompanhando a aprendizagem por esses cadernos–; os poemas produzidos. O critério que usei para avaliar esse conteúdo poético foi verificar se esse saber estava presente nas atividades propostas e nos poemas. Um exemplo desse domínio foi o dicionário poético que me mostrou que os alunos, de fato, haviam compreendido a proposta da linguagem poética (aluna Beatriz – “Paulista: carrossel de sonhos”). Outra prova do aprendizado é a presença da comparação e da metáfora em seus poemas. Aprendida a linguagem poética, parti para o profundamente dessa aprendizagem pelo trabalho com as rimas. O ob do trabalho com a rima foi mostrar aos alunos os efeitos do jogo métrico-musical para a construção do sentido e levá-los a usar esse recurso em seus poemas. As atividades propostas foram: a) análise de poemas, explorando a relação entre forma e conteúdo (com exemplo, temos o poema Cantiga de vento, de Elias José. Nesse poema, os alunos viram que o poeta, para expressar os sons do vento, fez um jogo com a letra “V”); análise da música “Amar” de Roupa Nova; produção de versão da música “A casa”. O critério usado foi a constatação da presença da rima nos poemas produzidos. Mas não bastava rimar, era preciso escolher rimas que associassem o som ao sentido pretendido. Por várias vezes, durante a produção dos poemas, eu conversei com os alunos sobre as rimas produzidas. Muitas vezes eles colocavam palavras que rimavam, mas que não faziam parte do campo semântico do poema em desenvolvimento. As produções finais e, em especial, a versão musical produzida, mostram que os alunos aprenderam a jogar com a rima para gerar sonoridade e produção de sentido. A última fase do projeto foi dedicada ao trabalho com a oralidade. O ob desse trabalho era ensinar o aluno a declamar com interpretação, impostação e variação vocal,  postura.  Para alcançar essa meta, desenvolvemos as seguintes atividades: a) assistir a poetas declamando em vídeo e ao vivo, ensaios constantes, declamação de poema em duplas, autoavaliação a partir da gravação das declamações (cada aluno teve sua declamação gravada para, em seguida, assistir-se e se autoavaliar). O critério usado para avaliar o aprendizado da declamação foi verificar se nelas havia interpretação, variação de entonação, impostação vocal. Pelo ensaio do dia 07/06 e pelas declamações que ocorreram no dia 09/06, no evento de culminância projeto, posso dizer, sem nenhum receio, que os critérios foram alcançados: os alunos aprenderam a declamar. Em outros anos eu já havia desenvolvido projetos com poesia, mas nunca havia conseguido os resultados desse último. Eu diria que meus estudos sobre o  gênero poético, e a pesquisa sobre leitura do doutorado, foram a base para que eu achasse a estratégia que resultou no aprendizado dos alunos. Sem falsa modéstia, aprendi o caminho para ensinar a produzir e declamar poemas. AUTOAVALIAÇÃO: Aprendi muito com o projeto à medida em que ensinava. Aprendi: a) que para o aluno se apropriar da linguagem poética, ele precisa vivenciar a dimensão do figurativo, explorar o não real; b) que ter um interlocutor real para a audição dos poemas fez com que o aluno se empenhasse  mais, tendo em vista que ele estaria diante de um público desconhecido que, de certa forma, avaliaria sua desenvoltura; c) que a autoavaliação, para o trabalho com a oralidade, é bastante eficaz porque os  alunos têm a chance de observar  suas falhas e fazer ajustes;  d) que ensinar a declamar exige do professor um trabalho de direção de pessoa, como o diretor de um peça que vai trabalhando para levar o ator ao clímax da interpretação. É preciso alcançar o emocional do aluno para que ele se entregue à poesia. No que diz respeito à minha assiduidade  e compromisso profissional, posso dizer que me dediquei muito ao projeto, mesmo com as demandas do doutorado. Várias vezes marquei aulas no contra-turno para ter mais tempo com os alunos. Mesmo sem uma verba inicial da escola, consegui o ônibus – em contato com o sindicato de professores do município – para levar os alunos ao passeio histórico e ao lar dos idosos. Sabendo da importância de mostrar aos alunos uma referência poética, consegui trazer para sala um representante da Academia de Letras da cidade. Vivo em busca do aprimoramento da minha docência. Prova disso foram as pesquisas que realizei para montar o projeto, bem com o próprio doutorado em leitura que me deu alguns norteamentos para o projeto. Gostaria de também relatar que durante o doutorado eu fiz um curso e um ano dois meses de contação de história. Tornei-me contador de história, aproximei-me mais da poesia e hoje tenho uma biblioteca itinerante em que faço contações nos bairros.

Gostou do conteúdo? Compartilhe

Posts relacionados

Siga-me

Posts recentes

Categorias
Glaucio Ramos

Glaucio Ramos

Doutor em Linguagem e Cultura, com foco em Análise do Discurso, autor de literatura infantil, contador de histórias, empreendedor social no campo de formação de leitores, formador de professores com mais dez anos de experiência, atuando nos campos da leitura, escrita, oralidade e projetos educacionais.Ganhador de diversos prêmios na área de projetos educacionais – Prêmio Espírito Público 2019; Professores do Brasil, 2018; Prêmio Maria da Penha vai à escola 2019; Prêmio Detran de educação 2017/2018.Autor e fundador do projeto social Leitura na Esquina – biblioteca itinerante.

SEJA UM APOIADOR
PRECISAMOS DO SEU APOIO CLIQUE NO BOTÃO SAIBA MAIS
×
×

Cart